O próximo “Sabores da Escrita” é dedicado a Irene Lisboa, nome com que passou a assinar os seus livros a partir de 1942. Irene Lisboa frequentou a Escola Normal e foi durante muitos anos professora primária. Fez estudos de pedagogia na Suíça, França e Bélgica e, sob o pseudónimo de Manuel Soares, publicou vários textos pedagógicos, iniciando em 1926 a sua obra literária com 13 Contarelos, seguidos de dois livros de poemas. A sua obra contempla figuras do dia-a-dia, desde operários, empregados, vendedeiras, mulheres-a-dias, as serviçais de então, os parentes pobres, e é marcada pelo sentimento de solidariedade social. Desafiadora da ordem política de então, Irene Lisboa sempre lutou pela liberdade e nunca se conformou com as funções e atitudes que o salazarismo exigia ao género feminino.
A iniciativa “Sabores da Escrita” tem sempre dois momentos distintos, que se interligam. Os interessados, no entanto, podem escolher participar nos dois ou apenas num. A conferência, marcada para as 19h30, é de entrada livre, e o jantar temático, que começa às 20h00, tem o custo de 22,50 euros por pessoa (inscrições limitadas a 60 pessoas) e é confecionado e servido pelos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra, com animação cénica da Cooperativa Bonifrates. As inscrições podem ser efetuadas através do e-mail dct@cm-coimbra.pt. Quanto à ementa do jantar é composta por pão, queijo, presunto, enchidos, ovos com tomate e ervas e pasteis de bacalhau (antepasto), por caldo de peixe e cozido à portuguesa (pasto) e bolo de mel com queijo fresco (sobrepasto). Também há vinho branco e tinto, água, vinho do Porto e café.
A “Abundância e fome na prosa de Irene Lisboa” é tema que Isabel Drumond Braga vai levar para este “Sabores da Escrita”. A investigadora tem desenvolvido atividade e lecionado nas áreas de história social, história de género, história cultural e história das práticas do quotidiano, em especial história da alimentação, das épocas moderna e contemporânea. Integra diversos projetos de investigação em Portugal, Espanha, Itália e Brasil e orienta projetos de pós-doutoramento, doutoramento e mestrado, nas áreas história da inquisição e da história das práticas culturais.
“Partindo da produção literária da autora, que nunca referiu as refeições da sua família de origem ou, dito de outro modo, da burguesia rural da zona saloia do início do século XX, podemos encontrar referências às práticas alimentares dos mais desfavorecidos, durante parte do Estado Novo. Quando aludiu aos pratos e às refeições, Irene Lisboa focou-se nos dos assalariados e na fome da criadagem rural e urbana. As condições de exercício das atividades domésticas, o abastecimento citadino, o alcoolismo e a frequência de estabelecimentos de restauração foram outros dos tópicos referenciados”, referiu a autora.
Professora associada com agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na área de História, Isabel Drumond Braga foi professora visitante na Universidade Federal Fluminense (Brasil), na Università di Catania (Itália), na Universidade Federal da Uberlândia (Brasil), e na Universidade Estadual de Londrina (Brasil). Foi, ainda, professora do programa Erasmus Plus, na Università degli Studi della Tuscia (Viterbo-Itália), de 2007 a 2015 e é da Università degli Studi Internazionali di Roma (UNINT- FIT), desde 2016.