A Casa Municipal da Cultura vai ter patente, de 12 de setembro a 27 de outubro, a exposição “A lepra na História”, que conta com documentação da Divisão de Bibliotecas e Arquivo Histórico e a mostra “Hansen Stories”, do Hospital Colónia Rovisco Pais, sobre as memórias de quem compartilhou o espaço da Leprosaria Nacional. A Leprosaria Nacional situava-se próximo das regiões mais endémicas, os distritos de Leiria, Coimbra e Aveiro, e foi um projeto orientado pelo então Diretor-Geral da Saúde, José Alberto Faria, pelo arquiteto Carlos Ramos e pelo professor Bissaya Barreto.
Na Idade Média, a lepra assumiu um papel importante na Europa Ocidental, enquanto doença endémica em desenvolvimento e mobilizadora de importantes medidas de profilaxia. O desconhecimento do seu tratamento gerou sofrimento, estigmas e conduziu a uma marginalização social. O acolhimento dos doentes com lepra foi feito em grafarias, criadas para evitar o contágio. Nesse contexto, Coimbra assiste à edificação, no século XIII, do Hospital de São Lázaro, uma estrutura assistencial para os leprosos que lhes garantia abrigo, alimentação e integração numa comunidade que não estaria totalmente afastada da sociedade considerada saudável.
Já na época contemporânea, na consequência do aparecimento de novas noções de saúde pública, higiene, epidemiologia e depois da identificação da lepra como doença infetocontagiosa – através da descoberta do bacilo pelo médico norueguês Gerhard Hansen (em 1873) – a idealização e conceção do Hospital Colónia Rovisco Pais (Tocha – Cantanhede) surge como “medicalização da doença”. Esta mostra pretende, pois, dar a conhecer um conjunto de memórias, contadas na primeira pessoa, de quem compartilhou esse espaço, a Leprosaria Nacional.
Esta é uma exposição que convida à reflexão sobre uma memória distante ou quase esquecida da nossa história e que pretende redescobrir duas instituições de caráter assistencial, importantes em épocas distintas. No dia de estreia da exposição, estão marcadas duas conferências que abordam aspetos confluentes deste percurso histórico e social. Assim, no dia 12 de setembro, terão também lugar na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, na Sala Sá de Miranda, pelas 17h00, as conferências “Cuidar dos leprosos na Idade Média: o Hospital de S. Lázaro no contexto assistencial de Coimbra”, que terá como oradora Ana Rita Rocha, e “Valorizar e (Re) descobrir o Hospital Colónia Rovisco Pais”, que será realizada por Cristina Nogueira.
Nota biográfica das autoras:
Ana Rita Rocha é investigadora no projeto VINCULUM, sediado no Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa, e é professora auxiliar convidada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Doutorada em História Medieval, com uma tese sobre a assistência em Coimbra na Idade Média, e mestre em História da Idade Média, com uma dissertação sobre o Hospital de S. Lázaro de Coimbra nos séculos XIII a XV. É investigadora integrada no Instituto de Estudos Medievais e colaboradora no Centro de História da Sociedade e da Cultura. Investiga os temas da vinculação (morgadios e capelas), da pobreza e da caridade, da assistência aos pobres e doentes em Coimbra e da lepra e dos leprosos na Idade Média.
Cristina Nogueira é licenciada em História, com especialização em Ciência da Informação (FLUC) e Gestão do Património Cultural (CBSP) e ao longo dos últimos 20 anos tem desenvolvido a sua atividade profissional em áreas como a formação e educação, investigação histórica, arquivística e museologia em diversas instituições. Foi autora de diversos livros e de textos em catálogos de exposições no domínio da história da saúde. Fundadora da CulturAge, nos últimos anos tem trabalhado também na área da consultoria e gestão do património cultural. Desde 2017 que colabora com o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais na salvaguarda e revitalização do património cultural do antigo Hospital Colónia Rovisco Pais, sendo curadora do respetivo Núcleo Museológico.