A primeira edição da Mostra de Teatro Galego em Coimbra, organizada pela companhia Escola da Noite e pela Cena Lusófona, envolve quase uma dezena de entidades da cidade e integra a programação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, do qual o Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB) faz parte. O evento foi apresentado hoje em conferência de imprensa, no espaço da Cena Lusófona, e contou com a presença de representantes das várias entidades envolvidas, entre eles o presidente da CM de Coimbra, José Manuel Silva, que, no seu discurso, sublinhou a importância de este estreitar de relações de Coimbra com a Galiza e os galegos.
A programação inclui oito espetáculos de teatro e um conjunto de outras atividades, entre as quais oficinas, exposições, leituras, uma masterclass, uma instalação/performance, uma mesa-redonda, uma apresentação de livro, uma feira do livro e até um baile, num total de 20 iniciativas espalhadas por diferentes espaços de Coimbra – para além do TCSB e da Cena Lusófona, o Teatro-Estúdio Bonifrates, o CITAC, o Rancho Folclórico Tricanas de Coimbra, o Centro de Artes Visuais e o Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), onde terá lugar o espetáculo de encerramento.
O evento é uma amostra significativa da criação teatral galega contemporânea. O programa acolhe grupos e artistas como Quico Cadaval, Cándido Pazó, Excéntricas Producións, Contraproducións, Sarabela Teatro, Teatro do Atlántico, Náufragos Teatro e AveLina Pérez, entre outros. Através do reportório selecionado, a Mostra de Teatro Galego permite uma visita a algumas das personalidades mais relevantes da história e da cultura da Galiza, como Vicente Risco, Emilia Pardo Bazán, Xosé Luiz Mendez Ferrín e Rosalía de Castro, bem como, numa iniciativa especial, a homenagem a Castelao, Xesús Alonso Montero, Isaac Diaz Pardo e Luis Seoane. Esta é, assim, uma oportunidade para reapresentar o teatro da Galiza ao público português e ao público de Coimbra em particular.
A programação de teatro começa no dia 28, no TCSB, às 19h00, com a peça “O Porco de Pé”, das Excéntricas Producións. “O Porco de Pé” é uma adaptação da novela com o mesmo nome, publicada pelo escritor Vicente Risco em 1928. Já no dia 29, na Bonifrates, às 19h00, Cándido Pazó, autor, encenador e contador de histórias, leva à cena um espetáculo especial, produzido para a Mostra de Teatro Galego, em Coimbra. A memória, a evocação e doses muito generosas de boa disposição são alguns dos ingredientes presentes neste espetáculo.
No dia 30, há lugar para a música “Galiza e Portugal – Muiñeiras e Farrapeiras, pandeiros e adufes cantam num mesmo baile”, com Vânia Couto, Buga lopes e Constança Ochoa. É um encontro musical entre as canções tradicionais portuguesas das Aldeias do Xisto e das canções tradicionais da Galiza da região de Ponteareas, Pontevedra. O espetáculo realiza-se sábado, às 11h00, no sub-palco do TCSB, integrado na ação sábados para a infância no TCSB.
O teatro volta a 1 de outubro, com a peça Arraianos, pela companhia Sarabela Teatro, no TCSB, às 16h00. “Arraianos” é uma das obras fundamentais da literatura galega, um conjunto de relatos perturbantes, que conduzem o leitor por mundos em que circulam o erotismo, o mistério, a miséria, a consciência, e a grandeza da alma e da vida. Venceu o Prémio da Crítica Galega, o Prémio da Crítica Espanhola e o Prémio Lousada Diéguez, em 1992.
Já no dia 5 de outubro, a companhia Contraproducións leva à cena, no TCSB, às 19h00, Cigarreiras. Trata-se de um espetáculo baseado em “La Tribuna”, de Emilia Pardo Bazán, romance escrito em 1883, cuja trama se situa na Fábrica de Tabacos de A Coruña (a “Marineda”, na obra original). Esta indústria foi das primeiras a contratar, massivamente, mão-de-obra feminina, constituindo-se como um dos primeiros espaços de socialização coletiva da mulher, assim transcendendo o ambiente doméstico a que tradicionalmente estava confinada.
A programação continua, na sala da Bonifrates, às 19h00, a 6 de outubro, com “Complexo de Edipo”, por Quico Cadaval. “Complexo de Édipo”, de Quico Cadaval, é um relato mítico que já foi escutado por 8.000 colombianos e 3600 africanos, dos quais 3.000 das Ilhas Canárias. O mito do homem que mata o pai, se deita com a mãe e chama filhos aos irmãos, agora comentado por uma taberneira de um porto galego, que ainda por cima é mãe do moniilista Cadaval.
No último dia, 7 de outubro, a companhia Náufragos Teatro apresenta a peça “Hugo”, às 11h00, no TCSB. É a história de Hugo, que tem PEA, perturbação do espectro do autismo, gosta muito de aviões e toca piano. “Hugo” fala da empatia, da necessidade de comunicarmos e da beleza da diferença.
No mesmo dia, a programação da Mostra encerra no TAGV, às 21h30, com a peça “Libre coma os páxaros”, produzida pelo Teatro do Atlántico. Baseada em textos de Rosalía de Castro, com encenação de Xúlio Lago e interpretação da actriz María Barcala, “Libre coma os páxaros”, conta a história de uma mulher que toma a palavra e proclama-se dona da sua liberdade. Declara, desafiante, não se submeter às regras da arte no exercício da sua atividade criativa, nem acatar as ordens dos seus pares. Declara o seu amor pela literatura, pela poesia e pela língua do seu país.
Para além destes oito espetáculos, paralelamente, vão ter lugar uma série de iniciativas associadas como oficinas, exposições, leituras, uma masterclass, instalação/performance, uma mesa-redonda, uma apresentação de livro, feira do livro e um baile. A Mostra de Teatro Galego apresenta espetáculos para todos as idades, com bilhetes que, na sua grande maioria, têm o valor de cinco euros.
Um evento que, pela sua dimensão e pelo envolvimento de uma parte muito significativa da comunidade artística de Coimbra, se assume como um verdadeiro abraço da cidade à Galiza e ao seu teatro e um novo passo no aprofundamento do diálogo e das possibilidades de intercâmbio entre as culturas dos dois países.
