Em termos ambientais, o MetroBus elétrico é de enorme benefício para o ambiente, já para não falar nos milhares de pessoas que serão servidos na linha da Lousã e em Coimbra. É também um exemplo, o primeiro BRT (Bus RapidTransit) do país, que está a ser olhado com interesse, e alguma cobiça, por outras cidades, que querem replicar o mesmo sistema.
A expressão em título aplica-se em sentido metafórico e literal à recente polémica do corte de cinco plátanos na avenida Emídio Navarro, três dos quais relativamente recentes, para permitir a passagem do MetroBus. Muita tem sido a demagogia de quem se foca na árvore e despreza a floresta.
Entre outras medidas já tomadas, o atual executivo da Câmara Municipal (CM) de Coimbra, com a adesão ao Pacto de Autarcas, a pedonalização da avenida de Aeminium e a proposta de criação de um novo Departamento de Ambiente e Sustentabilidade, que se espera que a oposição não bloqueie, já demonstrou a sua preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida urbana.
Naturalmente que a implementação de um novo modo de transporte público obriga a obras de transformação e adaptação do espaço público, as quais são inevitáveis, para que, dentro do conceito, que todos defendemos, se possa promover uma mobilidade urbana sustentável e amiga do ambiente.
Infelizmente, cinco plátanos, dois dos quais quase centenários, têm de ser cortados na avenida Emídio Navarro. Algumas pessoas querem opor-se ao seu corte com base numa visão redutora, que olha a árvore sem se preocupar com a floresta e, estranhamente, ou talvez não (…) defendendo posições que prejudicam o ambiente. Na verdade, a sua única preocupação é fazer ‘política’, com justificações inteiramente demagógicas. Assim:
1 – Ignoram que, ao contrário da automotora em carris, que tinha um via única, o MetroBus, nas linhas urbanas, vai ter duas vias, exatamente para permitir uma maior frequência de circulação, para melhor servir os utilizadores. Logo, ocupa o dobro do espaço. Até perguntam: Porque não passa um autocarro se passava uma automotora? Tristemente, nem sequer tiveram o interesse de estudar o projeto e de perceber que vão ser criadas duas vias paralelas, para permitir o cruzamento de dois veículos que circulem em sentidos opostos! Cai este falacioso argumento…
2 – Querem que se reduza uma faixa rodoviária num dos sentidos, desprezando o facto da avenida Emídio Navarro passar a ser uma das principais vias de circulação rodoviária na periferia da cidade na margem direita, pois a Rua Olímpio Nicolau Fernandes vai ser parcialmente ocupada pelo MetroBus, reduzindo a capacidade instalada ao nível do trânsito rodoviário, exatamente com o objetivo de retirar carros do centro da cidade. Se, caso ficasse com uma única via de tráfego no sentido Rua do Brasil-Portagem, acontecesse algum incidente na avenida Navarro, seria o caos rodoviário, particularmente à hora de ponta, com grave prejuízo das pessoas e do ambiente. Nem ambulâncias passariam…
3 – Dizem que plantar árvores novas não substitui imediatamente árvores frondosas. É verdade, logicamente, porém, não referem que, em vez daquelas cinco árvores, cujo corte lamentamos, vão ser plantadas 43 novas árvores na avenida Emídio Navarro, com um extraordinário balanço positivo para o futuro e estabelecendo um novo corredor de sombra na avenida ao logo do passeio que bordeja os seus prédios. Por acaso, aquelas cinco árvores, por se encontrarem dentro da praça central de uma rotunda, até proporcionam muito pouco sombreamento aos peões, constituindo mesmo um problema em termos de segurança rodoviária.
4 – Recorrendo a informação parcial, anterior à negociação do atual executivo da Câmara com a Metro Mondego, num diálogo sempre construtivo e muito cordial, que agradecemos, afirmam que vão ser cortadas 663 árvores e plantadas 664. Na verdade, no cômputo final, e o documento está acessível a todos, por cada árvore cortada vão ser plantadas três árvores, num vultuoso investimento da Metro Mondego e com um futuro balanço de carbono muito positivo (e as cidades têm que ser pensadas para o futuro).
5 – Não referem que o Plano Municipal de Arborização 2022, aprovado por unanimidade na reunião da Câmara de 18-04-2022, prevê, além daquelas relacionadas com o MetroBus, a plantação adicional de mais 1456 novas árvores urbanas durante o corrente ano, contribuindo para a mancha verde da cidade e demonstrando a preocupação ambiental do atual executivo.
6 – Pasme-se, referem que não há nenhuma razão para o MetroBus circular no eixo da via da av. Emídio Navarro “obrigando os utentes a atravessar as faixas de rodagem” (sic). Esclarece-se que não há nenhuma paragem entre o Parque e a Portagem. Por outro lado, a existência de vias dedicadas e a prioridade atribuída nos cruzamentos, por razões de fluidez e segurança, aconselha a reduzir ao mínimo o número de intersecções da via do MetroBus com o trânsito automóvel, razão pela qual o MetroBus circula nas faixas centrais, na continuação direta do antigo canal ferroviário. Caso contrário, o trânsito automóvel estaria permanentemente a ser obstruído em zonas muito sensíveis, com consequências dramáticas para a fluidez do trânsito, prejudicando tremendamente as pessoas e o ambiente.
7 – Estranhamente, invocam que num processo que se arrasta há 25 anos não importa mais algum atraso. É exatamente ao contrário! O início do funcionamento do MetroBus é urgente, para proteger o meio ambiente e responder á necessidade social das pessoas. Prevê-se que, talvez já em 2024, no primeiro ano de funcionamento do projeto, o MetroBus permita uma poupança de 2 572 toneladas de equivalente de petróleo (tep) em energia e uma redução de 18 907 toneladas de emissões de CO2. Qualquer bom ambientalista nem sequer pode tolerar mais adiamentos do MetroBus, pois, por cada dia de atraso, são milhares de carros com motores a combustão a circular, um efeito bem pior do que cinco árvores.
8 – Por outro lado, repensar agora o traçado do MetroBus numa obra consignada e em curso, implicaria necessariamente atrasos, relacionados com a realização de novos estudos, a revisão dos projetos e correspondentes orçamentos e conduziria à inevitável perda de financiamento europeu disponível, que impõe prazos muito curtos para ser executado. Mesmo assim, identificam-se já algumas componentes do sistema que estão a ser executadas na linha vermelha temporal do financiamento. Repensar o projeto é regressar mais de uma década atrás, sem alternativas na linha do horizonte. O presente executivo camarário não aceita que Coimbra volte a marcar passo.
9 – Herdámos este projeto, felizmente conseguimos introduzir ainda algumas melhorias significativas e conciliá-lo com outras soluções, mas não é possível alterar o canal já estudado, aprovado, financiado e em obra, razão pela qual, nesta fase, também não foi possível levar o MetroBus ao polo I da UC.
10 – Algumas pessoas propõem a transplantação dos Plátanos, desconhecendo os custos, as dificuldades técnicas e as probabilidades baixíssimas de sobrevivência, considerando a localização das árvores e o seu porte. Seriam necessários técnicos estrangeiros e o custo, nas grandes árvores, pode alcançar os 100.000 euros por árvore, valor que, só por si, é suficiente para plantar cerca de 600 árvores com um PAP 10-12.
Em jeito de conclusão, quem é eleito para governar uma cidade tem de ter a capacidade de analisar e considerar todas as vertentes dos problemas que lhe vão sendo colocados, ou seja, considerar “a floresta” como um todo e tratar da “floresta” de forma a promover um desenvolvimento sustentável, amigo das pessoas e do ambiente, respeitando o princípio das compensações, sempre com a preocupação que o balanço final seja francamente positivo, como é o caso.
Quem se foca apenas na “árvore” e ignora todos os restantes e importantes condicionamentos da “floresta”, com o mero objetivo de fazer política conjuntural negativa, não presta um bom serviço às pessoas, nem à “floresta”, muito menos ao ambiente, demonstrando que, afinal, não está preparado para governar a urbe e fazer crescer uma frondosa “floresta”, leia-se, uma cidade ambientalmente sustentável.