O espaço do Café Santa Cruz, situado na Praça 8 de Maio, na Baixa de Coimbra, remonta a 1896, uma vez que segundo a ficha da candidatura “já seria um estabelecimento comercial (mercearia ou café) o que se testemunha” com um artigo do jornal “Portugal”, de 27 de junho, onde é referido: «transforma(m) o templo de Santa Cruz num verdadeiro tasco».
“Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a Igreja de S. João de Santa Cruz é dessacralizada e este espaço assume as mais diversas funções comerciais: uma taberna, um armazém de ferragens e de canalizações, uma esquadra da polícia, uma casa funerária, uma estação (quartel) de bombeiros, uma estação de correios e uma casa de habitação”, refere ainda a candidatura, acrescentando que “desde 8 de maio de 1923 que o Café Santa Cruz está instalado na antiga Igreja de S. João de Santa Cruz”. “No entanto, por imposição da lei, pela qual todos os estabelecimentos similares tiveram que requerer licença para manter as portas abertas, o estabelecimento adquiriu o seu Alvará em maio de 1930”, é ainda referido.
Desde a sua abertura, este espaço de café-restaurante estava vocacionado para tertúlias, o que faz com que se torne um local da cidade atrativo para se abordar e discutir várias questões sociais, culturais, desportivas, económicas e políticas, sendo, por isso mesmo, “um local de romagem obrigatória para as figuras mais destacadas da governação local e nacional”.
Atualmente, o Café Santa Cruz é sede e ponto dinamizador da Associação Portuguesa dos Café com História, que a partir de 2015, inclui toda a gestão da Rota dos Cafés com História de Portugal. “Dentro do setor dos Cafés Históricos será certamente dos últimos e o mais genuíno de Coimbra e Portugal”, salienta a candidatura, evidenciando ainda o seu papel na “preservação da memória do serviço de restauração”, designadamente os “crúzios”, vencedores de diversas medalhas de ouro no concurso de doçaria tradicional promovido pelo CNEMA. Um doce lançado no dia 5 de março de 2012, que pretende homenagear o café, a igreja e o mosteiro de Santa Cruz.
Este estabelecimento preenche, assim, todos os requisitos que lhe permitem obter a denominação de “entidade de interesse histórico e cultural ou social local”, tais como, a título de exemplo, a longevidade, significado para a história local, função histórica, cultural e social, acervo próprio e existência como referência local, entre outros.
A decisão será, agora, submetida a um período de consulta pública, de 20 dias, para que, por fim, seja elaborado o relatório final e aprovado o reconhecimento.
Recorde-se que a CM Coimbra aprovou, em março de 2018, uma ficha de candidatura para a instrução de processos de reconhecimento e proteção de estabelecimentos e entidades de interesse histórico e cultural ou social local, de forma a auxiliar os estabelecimentos ou entidades que pretendessem ver efetivado esse reconhecimento. O objetivo passa, pois, por simplificar o procedimento, para que os estabelecimentos que se enquadrem nas categorias previstas na lei, entre eles as repúblicas de estudantes de Coimbra e as lojas com história, possam desencadear, com maior celeridade e simplicidade, o seu processo de pedido de reconhecimento como entidade de interesse histórico e cultural ou social local.