Coimbra tem, desde sempre, uma ligação privilegiada ao universo literário, sendo ponto de partida da formação de várias gerações de escritores e outros intelectuais do mundo lusófono e estando na origem de movimentos que marcaram a visão da literatura em Portugal, como é o caso da Questão Coimbrã. Com o objetivo de perpetuar e reforçar este vínculo, a cidade prepara-se para organizar o I Encontro Literário Internacional “Cidades Invisíveis”, iniciativa promovida pela CM Coimbra e que integra o programa da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027. De 26 a 29 de maio, o evento – que conta com um conjunto de atividades a decorrer em vários locais da cidade – convida os participantes a mergulhar nos imaginários urbanos presentes em diversas práticas artísticas.
O objetivo principal da iniciativa, que decorrerá anualmente e contará com um município internacional convidado para cada edição, é percorrer as relações múltiplas entre a cidade e a literatura, de acordo com a convicção de Ítalo Calvino: “a cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão”. Santiago de Compostela, que é geminada com Coimbra, foi a cidade escolhida para o ano de lançamento do encontro, que, ao longo dos quatro dias, irá receber um conjunto de atividades gratuitas abertas ao público, como tertúlias, momentos de leitura, protagonizados por escritores e atores, mesas redondas e conversas com escritores – que visam promover a interação entre escritores convidados e participantes – e, até mesmo, uma homenagem aos 40 anos de carreira da escritora Teolinda Gersão.
Entre os nomes que participarão neste evento encontram-se os escritores galegos Carlos Quiroga, Teresa Moure Pereiro, Susana Sanchéz Arins e Elias Torres Feijó e os portugueses Almeida Faria, Teolinda Gersão, Marlene Ferraz, Vasco Pereira da Costa, José Manuel Mendes, entre outros.
O Livro Transformado
Paralelamente ao encontro literário, será promovida, no Convento São Francisco e no âmbito da programação do “Semestre Europeu: a Europa em Coimbra 2021”, uma exposição que pretende valorizar o Livro nas suas dimensões materiais, refletindo sobre o lugar que ocupa nas nossas vidas, na cidade, no conhecimento, nos tempos de lazer, na circulação das ideias e na educação e, ainda, sobre a Casa dos Livros, a biblioteca ou a livraria. A leitura (e suas representações) ocupará, também, lugar de destaque.
O Livro Transformado é a temática central desta edição, que pretende refletir sobre o conceito de metamorfose – da transformação modal (do romance ao teatro e à poesia) à transformação transmodal (o diálogo das artes como a pintura ou o cinema, o digital, o audiobook, a criatividade computacional, etc.), passando pelas traduções, adaptações, reescritas, pela memória (do livro recitado) e tantos outros exercícios que serão revelados na inauguração da exposição, a decorrer durante o mês de maio.
Residência artística em Coimbra dá origem a projeto literário
O programa engloba, ainda, uma residência literária na Casa da Escrita – o escritor galego Carlos Quiroga estará em Coimbra, em residência artística, dedicando-se a um projeto literário, e participará nas atividades regulares da cidade. O resultado desta experiência será publicado, posteriormente, numa fórmula editorial especialmente concebida para o evento.
Para Manuel Machado, presidente da CM Coimbra, “esta é mais uma forma de afirmar Coimbra como cidade de literatura e, de forma mais ampla, de reforçar a importância da cultura para o município e o empenho que a Câmara Municipal tem dedicado a esta área estratégica das suas políticas públicas”.
O I Encontro Literário Internacional “Cidades Invisíveis” é uma das propostas culturais e artísticas apresentadas pela CM Coimbra para a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, que, “através de uma estratégia cultural de longo prazo, pretende envolver toda a cidade nesta caminhada” e, também, “inspirar novos modos de olhar e refletir sobre a cidade”, explica Cristina Robalo-Cordeiro, professora da Universidade de Coimbra e membro do Grupo de Trabalho da candidatura. Para António Pedro Pita, também docente da mesma instituição e membro do Grupo, a iniciativa “vem reforçar a imagem de Coimbra como cidade de literatura” e pretende “criar pontes para chegar aos leitores e leitoras”.