O trabalho começou a 2 de fevereiro, data em que os 16 jovens intérpretes foram selecionados para participar nesta edição do RAMPA, que conta com a direção da coreógrafa Margarida Belo da Costa, coadjuvada por Ester Gonçalves. Seguiram-se ensaios à porta fechada todos os fins de semana e neste sábado um ensaio aberto, de preparação para o espetáculo que será apresentado ao público no próximo dia 29 de abril. Até lá, ainda falta muito trabalho para os 16 jovens, com compreendidas entre 15 e 25 anos, que assume que este projeto como “uma descoberta”.
“O processo está a ser muito importante para o nosso crescimento como pessoas e como bailarinos”, refere Rafael Conceição, de 18 anos, que confessou estar com grandes expectativas para o espetáculo do próximo dia 29 de abril. Inês Vidal da Silva, de 20 anos, acompanha-o na perceção do trabalho realizado. Fala de um “processo de escuta e muita descoberta de uma nova fisicalidade” e sublinha que “toda a equipa acrescenta uma essência bonita ao projeto”.
Laura Ribeiro, de 16 anos, reforça que tem sido “um processo e uma experiência de autodescoberta e evolução” e que “cada ensaio proporciona a oportunidade de explorar novos movimentos e uma forte conexão com os colegas na partilha da mesma paixão pela dança”. Sobre a coreógrafa Margarida Belo da Costa, Laura destaca a habilidade de “unir as nossas individualidades numa harmonia de diferenças, transformando-as em algo que funcionam em conjunto”.
“O processo do RAMPA.2 tem sido profundamente inspirador. A complexidade de articular fisicalidades tão singulares e distintas com o intuito de edificar um coletivo coeso e sensível, constitui, sem dúvida, o motor de uma partilha de saberes genuinamente transformadora”, considera, por sua vez, Margarida Belo da Costa. “A viagem criativa tem sido fértil, em constante mutação – um território em construção, moldado pela escuta, pela entrega e pelo risco. As bases conceptuais que serviram de impulso inicial desdobram-se em múltiplas etapas colaborativas, marcadas pela cumplicidade, intuição e um sentido de grupo cada vez mais enraizado”, acrescenta a coreógrafa, realçando que “desde a transmissão de movimento à desconstrução individual, passando pelo partnering e pela improvisação estruturada, cada fase do processo tem aprofundado a criação numa linguagem comum – plural, instável, viva – onde cada corpo contribui com a sua memória e imaginário”.
Sobre o espetáculo, Margarida Belo da Costa adianta que “é uma criação que habita a ruína, não como um fim, mas sim como um lugar de possibilidades. O espetáculo propõe um olhar sobre a destruição como lugar de escuta, entreajuda e reinvenção”. “Num tempo em que o mundo se confronta diariamente com feridas abertas, esta obra convoca a ruína como metáfora do nosso presente coletivo. Um espaço onde as cicatrizes não se ocultam, pois são integradas, acolhidas, compreendidas como parte de um processo de reconstrução mais consciente e humano. Cada gesto nasce da vulnerabilidade, da tensão entre o que se perdeu e o que resiste. Em cena, o corpo coletivo constrói-se na escuta, na partilha e na transformação”.
Margarida Belo Costa avança, ainda, que “a paisagem sonora cruza a intemporalidade da música de Carlos Paredes, interpretada ao vivo por Hugo Gamboias, com a crueza e abstração da música eletrónica. Esta fusão sonora acentua o diálogo entre a memória e o presente, a tradição e a contemporaneidade”. Destaque, também, para o desenho de luz, da autoria de Filipa Romeu, que “convoca um espaço em permanente mutação – entre sombras, luz e penumbras – ampliando a poética da ruína e da reconstrução”. “Com estreia no Dia Mundial da Dança, When Scars Found Their Home celebra a potência do movimento como gesto de resistência, reinvenção e de liberdade”, conclui.
A diretora do Departamento de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Coimbra, Maria Carlos Pêgo, e o chefe da Divisão do Convento São Francisco, Filipe Carvalho, também marcaram presença no ensaio aberto. Os responsáveis reforçam que o RAMPA ganhou uma dimensão estruturante e garantem que é, naturalmente, um projeto para continuar.
Recorde-se que o RAMPA surgiu em 2023 como resposta a uma carência identificada por jovens bailarinos da região, nomeadamente por sentirem dificuldade de participação em projetos de relevo e no contacto com coreógrafos com referenciado renome nesta área artística.
Créditos fotográficos: Câmara Municipal de Coimbra | Tiago Costa