No ano de pausa entre edições da bienal de arte contemporânea de Coimbra, a Anozero convidou o casal canadiano Janet Cardiff e George Bures Miller para uma exposição, que vai estar patente de 5 de abril a 5 de julho, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, percorrendo obras de quase 30 anos de carreira dos dois artistas, sobretudo peças criadas em dupla, mas também individuais. Na conferência de imprensa, os artistas falaram sobre a relevância de apresentar os seus trabalhos no espaço dos Mosteiro e as expectativas para a primeira exposição da dupla em Portugal.
Janet Cardiff e George Bures Miller vão explorar as sombras, os ecos e os fantasmas de um mosteiro abandonado, que já teve diferentes ocupações e vidas, procurando um diálogo entre espaço e obras, onde a capacidade escultórica do som está presente. “Para nós, sempre foi claro que entrar nesta exposição será como mergulhar em apneia e perder as defesas. É um trabalho de imersão. Mais do que obras de arte, são experiências imersivas a partir das possibilidades escultóricas do som”, disse o diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), Carlos Antunes, durante a conferência de imprensa. O diretor acredita mesmo que o público será “engolido” pela exposição.
Assim, de 5 de abril a 5 de junho, no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, será possível ver e ouvir peças como “The Infinity Machine”, obra com 150 espelhos antigos que é exposta pela primeira vez fora do continente americano, onde se ouvem as frequências magnéticas registadas na missão Voyager, ou “The Forty Part Motet”, no refeitório do edifício, onde estarão dispostas 40 colunas numa formação oval, de onde saem 40 vozes gravadas e reproduzidas separadamente, que interpretam uma peça coral do século XVI.
Para Janet Cardiff, é “muito impressionante” poder trabalhar num espaço como o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. “Já não se veem espaços assim. Na maioria do mundo, espaços como este já estariam gentrificados, mas este tipo de edifício, com tinta a cair, leva-nos a pensar na história, nas memórias e isso está muito relacionado com o nosso trabalho”, disse a artista, acreditando que o som resgata também essas memórias e até fantasmas presentes. Já George Bures Miller afirma que a exposição obrigou o casal a olhar para o seu passado e para trabalhos antigos, não querendo nunca “competir com o espaço” onde as peças estarão, mas antes garantir que estas pudessem até ser elevadas pelo meio.
“É excitante para nós mostrar peças que normalmente não são apresentadas”, disse, apontando para o caso de “The Infinity Machine”, que exige um pé direito muito alto e que só foi apresentada uma única vez em Houston, nos Estados Unidos, há dez anos.
“Esta exposição é a concretização de um sonho absoluto, com dois artistas que admiramos absolutamente”, acrescentou Carlos Antunes.
Créditos fotográficos: Câmara Municipal de Coimbra | João Paulo Silvano
Vídeo: Câmara Municipal de Coimbra | Marta Costa
LUSA/CM de Coimbra