Depois da divulgação do número de autocarros dos SMTUC imobilizados na passada semana, apresenta-se a lista técnica da totalidade da frota dos SMTUC (178 autocarros). O documento comprova como a frota dos autocarros municipalizados tem uma média aproximada de 16 anos, contando mesmo com autocarros com mais de 25 anos, alguns deles integrados em processo de andamento para abate e que será apresentada de forma detalhada em breve.
O atual Executivo sempre apostou numa política de transparência e de verdade, “por isso importa esclarecer todos os interessados, sobre o que conduziu os SMTUC à situação que vivemos, assim como as ações que estão a ser empreendidas para mitigar o problema”, tal como referiu a vereadora da Mobilidade e presidente do Conselho de Administração dos SMTUC, Ana Bastos, na passada Reunião de Câmara.
No final da semana passada, os SMTUC contavam com uma taxa de imobilização superior a 40%, com reflexos na suspensão várias carreiras por dia, “situação difícil e insustentável e que tanto afeta os munícipes”, como lamentou Ana Bastos.
No entanto, o problema é antigo, pois os números atuais refletem a falta de investimentos ao longo dos últimos 10 anos. Recorde-se que as primeiras grandes dificuldades em assegurar a oferta programada remontam à crise financeira mundial de 2008, com impacto na operação entre 2012 e 2014, em grande parte por falta de apoio financeiro para renovação da frota, fruto das dificuldades económicas em época de programa de assistência financeira da troika. Em consequência, a taxa de imobilização disparou, com uma frota insuficiente para responder ao serviço estabelecido, e os primeiros cortes na oferta surgiram já em 2013.
Em 2014, e apesar da troca do Executivo, foi inevitável alargar a política de cortes na oferta aplicada às linhas urbanas mais relevantes, como a 7 e 7T, ano em que, sendo o primeiro ano do novo executivo, não houve a aquisição de um único autocarro para os SMTUC.
“A situação de emergência justificou o desenvolvimento, por parte do então CA, de um estudo para apoio à renovação da frota onde se previam dois cenários de investimento: (1) Aquisição de 10 autocarros novos por ano, entre 2015 a 2019, com vista a atingir a idade média de 9,8 anos no final do período; (2) Aquisição de 5 autocarros usados ainda em 2014, e de 5 autocarros novos e 10 usados por ano, de 2015 a 2019, o que permitiria baixar a idade média para 10,2 anos no final do período. Mas o plano nunca saiu do papel”, alertou Ana Bastos, explicando que, em 2019, a idade média disparou de dez para 15 anos. O CA dos SMTUC e o executivo camarário, que à data elaboraram o plano mínimo de renovação da frota, não cumpriram o seu próprio plano, com graves consequências para os SMTUC.
O plano previa que até 2019 fossem adquiridos 50 autocarros novos, no primeiro cenário, ou 25 autocarros novos e 50 usados com menos de 10 anos, no cenário 2, mas apenas foram adquiridos 18 autocarros standard novos (10 a combustão interna e 8 elétricos) e 17 usados. Tendo por base o cenário 2, dos 75 autocarros que deveriam ter entrado ao serviço, apenas entraram 35, contabilizando-se um défice de 40 autocarros standard, que poderiam ter sustentado o abate de igual quantidade de frota existente, “permitindo, por exemplo, que nos dias de hoje, os SMTUC já não contassem com autocarros com mais de 20 anos”, além de que teriam evitado a supressão diária de autocarros.
O não cumprimento do plano levou a que, ao longo dos últimos 10 anos, não se conseguisse baixar a idade média da frota (em 2011 era de 14 anos), e a taxa de imobilização fosse aumentando progressivamente, atingindo os 23,3% em 2021 (em 2011 era de 4,1%).
No entanto, em 2020 e 2021, foi alargada a rede à zona Sul e Norte do concelho, sem se planear um reforço e uma renovação da frota. À data do alargamento da rede, a frota era constituída por 177 viaturas, com uma idade média de 15 anos, atingindo-se taxas de imobilização superiores a 30%. Porém, nessa altura, fruto dos efeitos da pandemia da COVID-19, registou-se uma redução de cerca de 40% do serviço oferecido pelos SMTUC, pelo que as consequências desse alargamento da rede à zona Sul e Norte do concelho foram artificialmente adiadas para 2022. Piorando as circunstâncias, face ao lançamento do serviço da ECOVIA sem um plano de reforço da frota, os serviços entraram definitivamente em rotura.
Admitindo a gravidade da situação, a vereadora Ana Bastos sublinhou que o “atual Executivo está empenhado em mitigar o problema, pelo que já foi desenvolvido um novo plano de renovação da frota, estando em análise o melhor modelo de financiamento”, antes do mesmo ser divulgado publicamente ao pormenor. Porém, importa assinalar que, para além dos efeitos económicos da guerra na Ucrânia e das despesas decorrentes da crise energética e de combustíveis, este Executivo está entre quadros comunitários, o que dificulta o investimento neste período: quer o PT2020 quer o PRR não admitem novas candidaturas e a abertura do PT2030 tarda em ser anunciada, o que obrigará a outras soluções complementares para resolver, com urgência, a penosa situação dos SMTUC.