Foi com o Salão Nobre lotado que o arquiteto catalão apresentou a sua visão para a estação intermodal de Coimbra, que, na sua opinião, não deve mais incluir a letra “B”. A proposta de Joan Busquets, que servirá de base para um plano de pormenor desenvolvido pela CM de Coimbra ainda este ano, contempla uma estação num edifício em ponte, espaço para uma nova gare rodoviária (a atual está na avenida Fernão de Magalhães) e repensar a ligação de toda a zona poente de Coimbra à zona central da cidade, nomeadamente à Baixa.
Joan Busquets propõe, então, três edifícios (inicialmente eram dois), com alguma dimensão vertical e interessantes do ponto de vista arquitetónico, que sirvam como pontos de referência e de diálogo com o resto da cidade, sendo visíveis a partir da avenida Fernão de Magalhães ou da Alta de Coimbra. Esses edifícios, salientou o arquiteto, tanto poderão ser um hotel, como espaço de escritórios ou habitações.
O plano prevê uma ligação entre pequenos pontos de zonas verdes com a Mata Nacional do Choupal e um corredor verde por baixo do viaduto do IC2, na zona da Casa do Sal, tornando mais fácil a ligação pedonal ou de bicicleta à futura estação, que tanto poderá ser feita por essa zona como a partir do passeio ribeirinho, junto ao Mondego e que passa depois perto do Choupal, onde se prevê um outro aproveitamento do espaço público.
O plano aponta também para um desvio do IC2 no futuro, para aliviar a zona da Casa do Sal, considerando que a intervenção agora proposta de um corredor verde entre aquele ponto e a Baixa, passando pela avenida Fernão de Magalhães, não precisaria de alterações caso a mudança do IC2 se concretizasse. Esta intervenção naquela zona central permitiria alterar aquela que é a distância física efetiva entre Coimbra-B e o centro da cidade e a distância percecionada pelas pessoas, promovendo a mobilidade suave, sustentou.
Joan Busquets pensou, ainda, num espaço para se desenvolver um bairro em torno da estação, sublinhando que esse desenvolvimento urbano onde a alta velocidade passa é algo que tem acontecido em várias cidades da Europa. O arquiteto imagina uma área urbana a crescer naquela zona, em torno de uma estação “de conexão fácil, confortável e com uma ligação contínua com a cidade”. “Esta estação deverá permitir desenvolver outro tipo de atividade económica”, concluiu.
“Em conjunto com o grande investimento que está a ser feito com o Sistema de Mobilidade do Mondego, nós passaremos a ter uma nova mobilidade na cidade de Coimbra e no acesso a todo o país que vai revolucionar completamente a nossa cidade”, afirmou o presidente da CM de Coimbra, José Manuel Silva. O estudo urbanístico hoje apresentado por Joan Busquets é uma revisitação e atualização do plano já desenvolvido por aquele arquiteto catalão em 2010 para Coimbra-B (no âmbito do projeto de alta velocidade que, na altura, não avançou), que José Manuel Silva defendia que deveria ser recuperado.
José Manuel Silva agradeceu ao Governo e à Infraestruturas de Portugal (IP) pela abertura que tiveram para “melhorar muito” aquilo que era o projeto inicialmente previsto e considerou que a atual proposta vai dar “uma nova dinâmica à cidade”. “A cidade vai mudar”, frisou, notando que a importância do projeto levou a que o Salão Nobre da Câmara de Coimbra estivesse completamente cheio, com algumas pessoas a não terem lugar para se sentarem enquanto assistiam à sessão de apresentação. A nova estação, vincou, permite “escrever um novo futuro para a cidade de Coimbra, para o concelho e para a região”.
Para a vereadora da Mobilidade da CM de Coimbra, Ana Bastos, a intervenção agora prevista “impunha-se” e vai “muito além de um mero interface de transportes”. Ana Bastos considera que o atual plano do ateliê de Joan Busquets é “completamente diferente” do de 2010, influenciado por novas políticas de urbanismo e mobilidade, assim como “mais adaptado” ao território e menos intrusivo, com uma “predominância do verde”. A vereadora adianta, ainda, que o plano de pormenor, que será desenvolvido pela CM de Coimbra até ao final do ano, vai “potenciar a transformação de todo aquele espaço”. Para além da construção de uma nova estação, o plano pretende promover “um novo desenvolvimento” daquela zona, que vai sofrer “uma ampla intervenção urbanística”, mais atrativo “ao investimento público, mas também privado”. “Irá nascer aqui uma nova Coimbra na zona poente do concelho”, notou.
Ana Bastos destacou o facto de o plano questionar a atual localização do IC2, quando passa pela cidade, propondo um desvio que acabe com o viaduto da Casa do Sal e que permita resolver o problema do nó do Almegue, onde é normal haver congestionamento do trânsito. A vereadora da Mobilidade realçou, também, que o plano de pormenor prevê diferentes usos para aquela zona, como “habitação, serviços, comércio, ‘startups’” ou turismo, ambiente e cultura. Ana Bastos referiu, ainda, que para além da estação ferroviária, haverá ligação com o futuro Sistema de Mobilidade do Mondego, a rede de transportes públicos urbanos, táxis, modos de mobilidade suave, assim como estacionamento de ‘park and ride’. A vereadora adiantou, também, que estão previstos “múltiplos momentos de apresentação pública”, com possibilidade de discussão do projeto.
O secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, também presente na sessão, concordou com o arquiteto Joan Busquets e assegurou que “o ‘B’ será para cair”, antevendo uma “estação do século XXI”, com as condições de conforto e dignidade que atualmente não tem. Frederico Francisco considera que o plano de urbanismo apresentado pelo arquiteto catalão vai permitir também encurtar a distância entre a estação e o centro da cidade, sublinhando que “a distância apercebida é maior do que a física”. “A ideia de continuidade da Baixa à estação faz todo o sentido”, vincou, antevendo também que a cidade irá crescer à volta daquela futura infraestrutura.
A apresentação pública contou ainda com a participação do vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, que apresentou o projeto de alta velocidade Porto – Lisboa, onde se inclui a construção da nova estação de Coimbra.
Os processos do concurso de concessão do troço entre Aveiro e Coimbra da linha de alta velocidade, onde estará incluída a construção da nova estação de Coimbra-B, deverão ser lançados no final de 2023, referiu Carlos Fernandes, prevendo que a primeira fase da linha de alta velocidade (entre Porto e Coimbra) esteja concluída em 2028 e a segunda fase (entre Coimbra e Carregado) até 2030.
CM de Coimbra / LUSA
Apresentação do Plano de Pormenor (PP) da Estação de Coimbra B, pelo arquiteto catalão Joan Busquets
Intervenção da Vereadora da Câmara Municipal de Coimbra, Ana Bastos
Apresentação do vice presidente da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes