10 Janeiro 2023

Intervenção inicial da vereadora Ana Bastos | Reunião de Câmara, 09 de janeiro

Intervenção inicial da vereadora Ana Bastos | Reunião de Câmara, 09 de janeiro

Intervenção da vereadora da Mobilidade da Câmara Municipal (CM) de Coimbra, Ana Bastos, no período Antes da Ordem do Dia da Reunião de Câmara de 09 de janeiro. A vereadora e presidente do Conselho de Administração dos SMTUC abordou o atual estado dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) estão, que na passada sexta-feira, dia 06 de janeiro, registaram uma taxa de imobilização de cerca de 42%. Ana Bastos deu conta que o anterior executivo elaborou um plano de renovação de frota, que previa a compra de dez autocarros novos por ano (reduzindo a idade média da frota para 9,8 anos) ou a compra de cinco autocarros novos e dez usados por ano, no período definido (baixando a idade média para 10,2 anos), mas que nunca saiu do papel. Assim, em 2019, a idade média da frota dos SMTUC, em vez de dez anos, cifrou-se em quase 15 anos. Ana Bastos deu ainda conta que o atual executivo está empenhado em mitigar o problema, pelo que já foi desenvolvido um novo plano de renovação da frota, que será apresentado brevemente.

 

Intervenção na íntegra:

 

“Considerando o comunicado emitido ontem pelo Partido Socialista (PS) sobre o estado dos SMTUC, e hoje aqui verbalizado parcialmente pela Sra Vereadora Regina Bento, e onde o PS quer fazer crer que, apesar de ter estado à frente da gestão daqueles serviços durante 8 anos, nada tem a ver com o que se passa, impõe-se repor aqui a verdade!

 

Sra Vereadora, a renovação de uma frota de 177 veículos, não se faz num ano! Mas com base num plano de renovação de frota, a medio/longo prazo, ou seja 10 a 15 anos!

 

O PS até elaborou esse plano, mas ignorou-o e não o cumpriu! Deixou-se andar à deriva durante 8 anos e agora vem responsabilizar o atual executivo, do estado em que VOCÊS deixaram aqueles serviços? Preciso de a recordar que quando assumimos os serviços já estavam a ser suspensas mais de 20 chapas diárias?

 

É a esta situação que o PS chama de “VERDADEIRA BOA HERANÇA DEIXADA PELO PS!”? Acho que nem o PS acredita nas suas próprias palavras, de tão falaciosas e incoerentes que são.

 

Sra. Vereadora, em política não vale tudo! Haja decoro! Pelos vistos a Sr. Vereadora anda com problemas de memória, ou então é mesmo má-fé e desonestidade intelectual? Por várias vezes referi que não gosto de olhar para o passado, a não ser para aprender com os erros. Mas é o PS que me obriga a fazê-lo!

 

Este executivo sempre apostou numa política de transparência e de verdade, por isso importa esclarecer todos os interessados, sobre o que conduziu os SMTUC à situação que vivemos assim como as ações que estão a ser empreendidas para mitigar o problema.

 

Na 6ª feira, estavam imobilizados 67 autocarros standard e 8 miniautocarros, o que representa 42% da frota atual. Essa taxa de imobilização tem-se refletido na suspensão de 10 a 15 chapas por dia, situação difícil e insustentável e que tanto afeta os municípios.

 

Mas o problema é antigo, sendo que atualmente apenas vivemos o reflexo que foi traçado e alimentado ao longo dos últimos 10 anos, em grande parte pelo PS. Sra Vereadora, a memória, não pode ser assim tão curta… mas faço questão de a recordar.

 

As primeiras grandes dificuldades em assegurar a oferta programada remontam à crise financeira mundial de 2008 e que em Portugal se agudizou em 2011.

 

Esse impacto veio a refletir-se na operação entre 2012 e 2014, em grande parte por falta de apoio financeiro para renovação da frota, fruto das dificuldades económicas em época de programa de assistência financeira da troika, agravadas pelas restrições que existiam para a aquisição de bens, prestação de serviços ou contração de dívida como a “Lei dos Compromissos”.

 

Em consequência, a taxa de imobilização disparou, com uma frota insuficiente para responder ao serviço estabelecido, e os primeiros cortes na oferta, surgiram já em 2013. Em 2014, e apesar da troca do executivo, foi inevitável alargar a política de corte na oferta aplicada às linhas urbanas mais relevantes, como a 7 e 7T, ano em que se adquiriram zero autocarros.

 

A situação de emergência, justificou o desenvolvimento, por parte do então CA, de um estudo para apoio à renovação da frota onde se previam dois cenários de investimento: (1) Aquisição de 10 autocarros novos por ano, entre 2015 a 2019, com vista a atingir a idade média de 9,8 anos no final do período; (2) Aquisição de 5 autocarros usados ainda em 2014, e de 5 autocarros novos e 10 usados por ano, de 2015 a 2019, o que permitiria baixar a idade média para 10,2 anos no final do período.

 

Mas o plano do PS, nunca saiu do papel e em 2019, a idade média, em vez de 10 anos, cifrou-se em quase 15 anos.

 

O plano previa que, até 2019 fossem adquiridos 50 autocarros novos, no 1º cenário, ou 25 autocarros novos e 50 usados, com menos de 10 anos, no cenário 2, mas apenas foram adquiridos 18 autocarros standard novos (10  a combustão interna e 8 elétricos) e 17 usados.

 

Assim, se tivermos por base o cenário 2, dos 75 autocarros que deveriam ter entrado ao serviço, apenas entraram 35, contabilizando-se um défice de 40 autocarros standard, que poderiam ter sustentado o abate de igual quantidade de frota existente, permitindo, por exemplo que nos dias de hoje, os SMTUC já não contassem com autocarros com mais de 20 anos.

 

O não cumprimento do plano, levou a que, ao longo dos últimos 10 anos, não só não se conseguisse baixar a idade média da frota (em 2011 era de 14 anos) como permitiu que a taxa de imobilização fosse aumentando progressivamente, atingindo os 23,3% em 2021 (em 2011 era de 4,1%). Sublinhe-se que neste período foram adquiridos 87 autocarros e miniautocarros, 56% dos quais usados, para além de terem sido abatidos muito poucos autocarros velhos, os quais foram mantidos na frota, como operacionais, para responderem a necessidades imediatas do serviço.  

 

E foi nestas condições que o executivo anterior, em 2020 e 2021 decidiu alargar a rede à zona Sul e Norte do concelho, sem previamente reforçar e renovar a frota. A solução de curto prazo passou pela aquisição de mais 21 viaturas usadas, e bem usadas, e que exigiram sérias necessidades de manutenção. Apesar disso, o executivo anterior também se esqueceu de aumentar o pessoal operário, para resposta dos serviços de manutenção. Nesta altura a frota era constituída por 177 viaturas, com uma idade média de 15 anos, atingindo-se taxas de imobilização superiores a 30%.

 

Mas há males que vêm por bem! E se as repercussões desta situação não foram mais evidentes, foi porque durante o ano de 2020 e parte de 2021 a pandemia pela COVID 19, se traduziu na redução de cerca de 40% do serviço oferecido. Mas ainda assim, importa relembrar que com o lançamento do serviço da ECOVIA, o sistema entrou em rotura. 

 

E é esta a “VERDADEIRA BOA HERANÇA DEIXADA PELO PS!”? Sra. Vereadora, não deveria ter vergonha e estar calada? Quem deixa um serviço nestas condições, devia ter vergonha em vir atirar pedras a quem herda uma verdadeira desgraça, numa época onde as dificuldades são enormes. E é a Sra. que vem insistir para continuarmos a alargar serviço a outras zonas do concelho, no caminho sem retorno do precipício?

 

Quer comparar a situação dos SMTUC à dos STCP e da CARRIS quando sabe que as fontes de financiamento são diferentes, tendo estas contado com injeções financeiras avultadas por parte do Estado. E o que a Sra. fez, para contrariar essa desigualdade de tratamento? NADA!

 

Mas as mentiras têm perna curta! Acusa o PS, da Sra Diretora Delegada dos SMTUC, se ter “ausentado para férias no período do Natal e ter deixado indicações expressas a impedir qualquer tipo de aquisições?! Nem um parafuso se pode comprar?!” Fiquem V. Exas a saber que a Sra Diretora Delegada tinha inicialmente previstos 5 dias, mas na realidade acabou por tirar unicamente o dia 26 e 29, como se pode confirmar através do seu registo biométrico. Mas, para vossa informação, no dia 29, desde a 15h30 até às 18 horas esteve nos SMTUC a despachar processos, facilmente comprovado por registos internos. Como bem disse o Sr. deputado do PS Jorge Sanches: “Exige-se sentido ético” a quem aceita funções…”. Era bom que as afirmações maliciosas e mentirosas proferidas pelo PS, fossem confirmadas com dados concretos.   E desafio-a a isso!

 

Vou-me escusar a falar sobre processo para internalização, chumbado pela oposição o qual já foi amplamente debatido. Também não vou falar das supostas tentativas de privatização dos SMTUC, as quais só existem na vossa mente.

 

Repudio na íntegra o comunicado do PS e o conjunto de falácias, mentiras e desonestidade intelectual que concentra, num discurso centrado na agressividade e na destruição e onde se mostraram incapazes de apresentar uma única proposta construtiva para mitigação do problema. A Sra. Vereadora devia ter vergonha em usar tal linguagem, quando é diretamente responsável pela situação!

 

A Sra. Vereadora sabe que o caminho de desinvestimento seguido pelo executivo anterior nos SMTUC, e o consequente envelhecimento da frota, mas também a dificultar a ação deste executivo numa época onde a conjuntura económica é extremamente desfavorável, fruto da crise no sector energético e com o aumento generalizado dos preços, na sequência da guerra na Ucrânia. Também o acesso a fontes de financiamento se encontra barrado, já que o PT 2020 e o PRR não aceitam a entrada de novas candidaturas e o PT 2030 tarda em ser lançado.

 

Por isso Sra. Vereadora, em que fundamentos se baseia para acusar o atual executivo de “erros de gestão”? Aponte-nos uma única oportunidade de financiamento desperdiçada por este executivo? A resposta é nenhuma!! Já o mesmo não podemos dizer do seu executivo que nas várias chamadas, e apesar do estado da frota, nunca esgotou o plafond máximo estabelecido pelos programas de financiamento. Veja-se a título de exemplo os Transportes do Barreiro, que tirando partido dos programas de financiamento POSEUR aberto em 2017, substituíram toda a sua frota a combustão interna por 60 autocarros movidos a gás natural, e construíram um novo posto de abastecimento de gás natural comprimido, financiado a 85%. Os SMTUC nesse mesmo período adquiriram 8 autocarros standard e 2 miniautocarros elétricos. Afinal onde estão os erros de gestão? Afinal onde está a incompetência?

 

Falam nos novos 22 autocarros, cuja candidatura foi promovida pelo PS. Nunca o negamos! Recomendo que leia as atas das reuniões de Câmara para refrescar a memória, onde isso foi sempre assumido. Mas também poderá refrescar a memória quando referi que, apesar de termos tentado, já não conseguimos alterar a candidatura ao POSEUR III, de maneira a esgotarmos o plafond máximo. Isso ter-nos-ia permitido adquirir mais 3 a 4 autocarros novos elétricos. Foi no final de outubro de 2021, tínhamos acabado de assumir o executivo e já tínhamos percebido que a renovação da frota deveria ser a prioridade de gestão!

 

Sra. Vereadora, não basta comparar dois indicadores globais, sem os enquadrar na conjuntura económico-financeira para tentar ilibar a responsabilidade do seu executivo. É certo que em 2013, o PS herdou uma herança pesada, fruto da crise económica criada pelo PS e que justificou a entrada da Troika no país. Mas é obvio que, ao longo dos 8 anos do seu executivo não faltou a abertura de programas de financiamento europeu para renovação da frota e nem por isso melhoraram os resultados. Por isso não recebemos uma BOA HERANÇA. Herdamos um FARDO PESADO, resultado da incompetência e inatividade do PS e numa fase, recheada de oportunidades de financiamento.

 

SIM, a situação é grave, não é de resolução fácil e muito menos imediata e exige um esforço económico em nada compatível com a conjuntura económica que vivemos atualmente. O atual executivo está empenhado em mitigar o problema, pelo que já foi desenvolvido um novo plano de renovação da frota, estando em análise o melhor modelo de financiamento.

 

Em complemento, estão a ser adotadas medidas de curto prazo que serão avançadas a breve trecho. Está igualmente aprovada a abertura de novos procedimentos para contratação de novos mecânicos, eletricistas e vulcanizadores.

 

Em paralelo, estão a ser revistos os horários de algumas linhas, tendo por base a informação real prestada pelos motoristas de forma a tornar a condução mais segurança e confortável, enquanto se contribui para a poupança de combustível e do esforço mecânico dos veículos.

 

Face à situação, não posso deixar de agradecer a todos os funcionários dos SMTUC, o empenho e contributos enviados no sentido de se ultrapassar a situação, assim como a cooperação geral de todos os funcionários que no dia a dia, vão dando resposta ao serviço, desde o atendimento ao munícipe, passando pelo planeamento, gestão, produção e os serviços de manutenção.

 

É com eles que estamos a traçar este plano de renovação e é com eles que iremos reerguer os SMTUC, enquanto serviço publico essencial ao desenvolvimento económico social e ambiental de Coimbra.”

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