O presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Manuel Machado, mostrou-se ontem preocupado com o que chamou de “nortização” do traçado da linha ferroviária de ligação à fronteira de Vilar Formoso. “Ficamos preocupados quando é iniciada uma tentativa de construção de uma linha ferroviária renovada pela Linha do Vale do Vouga”, afirmou Manuel Machado, na reunião do executivo municipal, defendendo que “a ligação entre a Linha do Norte e Vilar Formoso é uma questão fundamental, daí que a modernização da Linha da Beira Alta seja uma prioridade absoluta”. A preocupação do autarca mereceu a concordância de todos os vereadores da CMC presentes.
Manuel Machado está apreensivo com o futuro do interface rodoferroviário da Pampilhosa do Botão (previsto do Plano Diretor Municipal de Coimbra e da Mealhada), perante as recentes declarações do Governo sobre a nova linha Aveiro-Mangualde, que o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, apresentou publicamente, no dia 20 de julho, na Covilhã. Uma linha ferroviária de 86 km, que seguirá paralela à A25 e agregará cidades como Aveiro, Mangualde, Viseu e Salamanca, que vai beneficiar os portos de Aveiro e Leixões, e que deverá contar com financiamento europeu, tendo um custo estimado de 675M€.
“Conheço bastante bem aquele percurso e as dificuldades que há para uma travessia ferroviária”, afirmou o presidente da CMC, considerando que “a tentativa de ‘nortizar’ a construção da Linha da Beira Alta para o Vale do Vouga – onde não há fundos, nem dinheiro – será uma perda de tempo”. “A modernização da Linha da Beira Alta é uma prioridade absoluta. Há sítios onde o comboio só pode circular a 10 ou 12km/h, o que é inaceitável”, defendeu o presidente da CMC.
“Ela [a Linha da Beira Alta] precisa de investimento urgente, para modernização. E nós precisamos do interface rodoferroviário de transporte de mercadorias, tal como está no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável, com proximidade suficiente ao Porto da Figueira da Foz e ao ponto estratégico da Linha do Norte com ligação à fronteira”, considerou ainda Manuel Machado, argumentando que houve sempre entendimento entre Coimbra e a Mealhada, e mesmo “entre todos os municípios da CIM da Região de Coimbra”, para avançar com esse interface rodoferroviário.
“Esta é uma questão estratégica fundamental. Pronuncio-me contra a ‘nortização’ do traçado da via, diga-se o que se disser sobre as transeuropeias”, insistiu o presidente da CMC. “Os mapas por onde alguns em Bruxelas se orientam estão cada vez mais distorcidos da realidade social, económica e humana e das comunidades”, acrescentou ainda Manuel Machado, defendendo que “é necessário continuar com este tipo de preocupações e manifestar a discordância”.
Manuel Machado considera ainda que a modernização da Linha da Beira Alta deve avançar “com urgência” e a circulação ferroviária não deve ser impedida durante o tempo em que decorrer a obra. “Pois bem, a lição do Metro Mondego e do encerramento da Linha da Lousã é uma boa lição e, a meu ver, não podemos permitir que isso aconteça”, recordou o autarca. “Devem manter a circulação ferroviária, obviamente com medidas de segurança, mas não interromper”, insistiu.